Se vivo fosse, meu pai, José da Costa e Almeida Neto, estaria completando no
dia de hoje 88 anos. Quis o Todo Poderoso que ele nos deixasse em 26 de
fevereiro de 2005.
Resolvi aqui prestar uma singela homenagem a ele por ser o responsável por eu estar até hoje envolvido neste maravilhoso mundo do futebol de mesa.
No ano de 1965, depois de termos passado por cidades como Nazaré (onde nasci), Ituberá, Campo Formoso e Salvador, estacionamos em Cruz das Almas, município situado no Recôncavo sul da Bahia, distante146 quilômetros da
capital do Estado, Salvador.
Meu pai era coletor estadual e vivia pulando de galho em galho ou de cidade em cidade, um verdadeiro caixeiro-viajante. Minha família de quatro irmãos e três irmãs é formada por três nascidos em Nazaré (eu, Cristina e Ângela), um em Campo Formoso (Antônio Carlos), um em Ituberá (André Fernando), uma em Salvador (Márcia) e o último em Cruz das Almas (Edu).
No Natal de 1965, começou o meu envolvimento e também de meus irmãos com o futebol de botão.
Como fazíamos em todos as outras ocasiões no dia de Natal, acordamos e fomos direto para ver o que nos aguardava ao pé da cama. Para minha surpresa, algo que não conhecia e que mudaria minha vida em se tratando de diversão de criança: uma caixinha de papelão com uma divisória ao centro dela. Como era comum, todos os meus irmãos e irmãs já estavam acordados, contando a novidade que Papai Noel trouxe para cada um.
Nesta minha caixinha de papelão estavam dez objetos esféricos nas cores preta e branca, acompanhados de uma cartela com rostos de jogadores do Botafogo e Fluminense, ambos do Rio de Janeiro, para serem colados naqueles objetos esféricos. Além disso, um outro objeto totalmente diferente dos demais (o goleiro, aquele com uma haste de ferro por detrás dele) e dois pequenos discos, um preto e o outro branco (as bolas).
Não demorou para meu irmão Antônio Carlos chegar com a novidade dele, uma outra caixinha, com objetos esféricos verdes (do Palmeiras) e brancos (do Santos), com outras figuras de jogadores.
Como éramos três irmãos (o quarto irmão, Eduardo, somente nasceria em 1968), fiquei com o Botafogo (preto), Antônio Carlos com o Palmeiras (verde) e André Fernando com o Santos (branco). O Fluminense (branco) seria utilizado por meu pai ou por qualquer outra pessoa interessada em jogar e nos desse o prazer de visitar-nos.
Um jogador em especial no Fluminense me chamava a atenção, simplesmente porque ocupava quase todo o espaço destinado ao nome do jogador, circundando o seu rosto: Joaquinzinho. No Palmeiras, lá estavam Dudu e Ademir da Guia. No Santos, o grande Pelé já comandava o time. O meu Botafogo tinha craques como Manga, Gerson e Jairzinho.
Tempos depois perguntei ao meu pai o motivo de ter dois times paulistas e não os outros dois grandes clubes do futebol carioca (que tinham e tem enorme torcida no Nordeste). Rapidamente ele respondeu que essa escolha foi para evitar qualquer possível simpatia por Flamengo ou Vasco da Gama, considerados inimigos lá em casa, por motivos óbvios, eis que meu pai era botafoguense roxo.
A partir desse 25 de dezembro, pacientemente, ele percebeu que tinha arrumado, como se diz, “sarna para se coçar”. Passou a nos ensinar primeiramente as regras e depois aos treinamentos diários, lições básicas para quem nunca soube para que serviam aqueles objetos esféricos coloridos: a maneira correta de se pegar na palheta, a importância da pontaria, da precisão no chute a gol e outras informações que ele conhecia dos seus tempos de jogador de botão.
Os primeiros jogos passaram a acontecer numa mesa de fórmica situada em nossa cozinha, que se transformou em nosso primeiro Maracanã, com alguns pequenos detalhes: não tinha nada em volta dela, mas com ajuda das mãos, sempre que possível, o botão não caía no chão. Se ela não deslizava conforme queríamos, recorríamos ao talco. As marcações eram feitas, bem de leve, com lápis comum ou giz.
Um desses visitantes, um vizinho e amigo de meu pai, Sr. Estevam, foi responsável pelas nossas primeiras chateações em uma mesa. Ele tirava a gente do sério, provocava quando errávamos um determinado lance, gritava muito quando fazia gol e seus comentários eram sempre com a finalidade de tirar a nossa “concentração”. Na maioria das vezes, conseguia. Por outro lado, foram, certamente, os primeiros exemplos de motivação para o que viria pela frente. Com o passar dos dias, mais treinados por meu pai, que nos ensinou de imediato a não reagir de forma negativa às provocações, começamos a ganhar mais dele e ele foi “baixando a bola”. Passando naquele teste psicológico, certamente enfrentaríamos com facilidade outros que viessem a aparecer.
Reações bem menores que as de meu pai e de meu tio Gilson quando jogavam em Nazaré: o que perdesse o jogo, muito chateado, jogava pela janela todos os botões num matagal ao lado da casa de minha avó. No dia seguinte, de cabeça fria, iam recolher os defenestrados jogadores.
Como a receptividade foi maior do que a esperada e para evitar futuras brigas com minha mãe e a empregada, meu pai providenciou, meses depois, outro grande presente para seus três filhos: uma mesa oficial, com suas marcações próprias e precisas, de madeira, com cavalete e também aparatos na lateral (agora nossos craques não cairiam mais no chão!). Uma maravilha de mesa! Se a de fórmica era o nosso Maracanã, como chamar essa perfeição? Por incrível que pareça, nunca a batizamos!
Ao ser espalhada a notícia de que na casa de Almeidinha (assim os amigos chamavam meu pai) havia uma mesa oficial para jogo de botão, os vizinhos de nossa rua e de outras por perto passaram diariamente a seguir em direção ao nosso quintal.
Com a realização dos primeiros jogos, foram surgindo novos times, de materiais diferentes (um dos amigos, Naduca, apareceu com um time de acrílico; outro do qual lembro o nome foi Celsinho) daqueles que estávamos acostumados, nada que prejudicasse a brincadeira de todos aqueles meninos, ávidos em jogar uma partida de botão numa mesa tão bonita. Dificilmente fazíamos torneios, devido ao grande número de interessados em jogar, mas era grande o número de jogos por dia.
O futebol de botão passou a dividir nosso tempo de diversão, nossa infância, a ser concorrente do futebol, praticado num campinho com mato no lugar da grama (que preparamos colocando meiões nos pés para retirar os carrapichos do mato).
Essa mesa nos acompanhou na próxima mudança de cidade (para Salvador, no bairro do Rio Vermelho), onde fizemos novas amizades por conta do futebol de botão. Jogávamos muito nessa época: deixávamos a mesa na cobertura do prédio onde morávamos e, quando queríamos jogar uma partida, íamos nós mesmos ou chamávamos alguns moradores que já conheciam o futebol de botão. Nessa época eu tinha um caderninho, onde anotava os gols do meu Botafogo. O Paulo César Lima, meu número 11, tinha mais de mil gols!
Chegamos em Brasília, em janeiro de 1972. A mesa veio com a gente! Continuamos jogando nossas partidas, organizando nossos campeonatos (sem troféus) até 1979, quando conhecemos uma boa parte desses com quem dividimos hoje grandes momentos de alegrias. Momentos esses que só foram possíveis graças aos presentes de meu saudoso pai! Que Deus o tenha!
Resolvi aqui prestar uma singela homenagem a ele por ser o responsável por eu estar até hoje envolvido neste maravilhoso mundo do futebol de mesa.
No ano de 1965, depois de termos passado por cidades como Nazaré (onde nasci), Ituberá, Campo Formoso e Salvador, estacionamos em Cruz das Almas, município situado no Recôncavo sul da Bahia, distante
Meu pai era coletor estadual e vivia pulando de galho em galho ou de cidade em cidade, um verdadeiro caixeiro-viajante. Minha família de quatro irmãos e três irmãs é formada por três nascidos em Nazaré (eu, Cristina e Ângela), um em Campo Formoso (Antônio Carlos), um em Ituberá (André Fernando), uma em Salvador (Márcia) e o último em Cruz das Almas (Edu).
No Natal de 1965, começou o meu envolvimento e também de meus irmãos com o futebol de botão.
Como fazíamos em todos as outras ocasiões no dia de Natal, acordamos e fomos direto para ver o que nos aguardava ao pé da cama. Para minha surpresa, algo que não conhecia e que mudaria minha vida em se tratando de diversão de criança: uma caixinha de papelão com uma divisória ao centro dela. Como era comum, todos os meus irmãos e irmãs já estavam acordados, contando a novidade que Papai Noel trouxe para cada um.
Nesta minha caixinha de papelão estavam dez objetos esféricos nas cores preta e branca, acompanhados de uma cartela com rostos de jogadores do Botafogo e Fluminense, ambos do Rio de Janeiro, para serem colados naqueles objetos esféricos. Além disso, um outro objeto totalmente diferente dos demais (o goleiro, aquele com uma haste de ferro por detrás dele) e dois pequenos discos, um preto e o outro branco (as bolas).
Não demorou para meu irmão Antônio Carlos chegar com a novidade dele, uma outra caixinha, com objetos esféricos verdes (do Palmeiras) e brancos (do Santos), com outras figuras de jogadores.
Como éramos três irmãos (o quarto irmão, Eduardo, somente nasceria em 1968), fiquei com o Botafogo (preto), Antônio Carlos com o Palmeiras (verde) e André Fernando com o Santos (branco). O Fluminense (branco) seria utilizado por meu pai ou por qualquer outra pessoa interessada em jogar e nos desse o prazer de visitar-nos.
Um jogador em especial no Fluminense me chamava a atenção, simplesmente porque ocupava quase todo o espaço destinado ao nome do jogador, circundando o seu rosto: Joaquinzinho. No Palmeiras, lá estavam Dudu e Ademir da Guia. No Santos, o grande Pelé já comandava o time. O meu Botafogo tinha craques como Manga, Gerson e Jairzinho.
Tempos depois perguntei ao meu pai o motivo de ter dois times paulistas e não os outros dois grandes clubes do futebol carioca (que tinham e tem enorme torcida no Nordeste). Rapidamente ele respondeu que essa escolha foi para evitar qualquer possível simpatia por Flamengo ou Vasco da Gama, considerados inimigos lá em casa, por motivos óbvios, eis que meu pai era botafoguense roxo.
A partir desse 25 de dezembro, pacientemente, ele percebeu que tinha arrumado, como se diz, “sarna para se coçar”. Passou a nos ensinar primeiramente as regras e depois aos treinamentos diários, lições básicas para quem nunca soube para que serviam aqueles objetos esféricos coloridos: a maneira correta de se pegar na palheta, a importância da pontaria, da precisão no chute a gol e outras informações que ele conhecia dos seus tempos de jogador de botão.
Os primeiros jogos passaram a acontecer numa mesa de fórmica situada em nossa cozinha, que se transformou em nosso primeiro Maracanã, com alguns pequenos detalhes: não tinha nada em volta dela, mas com ajuda das mãos, sempre que possível, o botão não caía no chão. Se ela não deslizava conforme queríamos, recorríamos ao talco. As marcações eram feitas, bem de leve, com lápis comum ou giz.
Um desses visitantes, um vizinho e amigo de meu pai, Sr. Estevam, foi responsável pelas nossas primeiras chateações em uma mesa. Ele tirava a gente do sério, provocava quando errávamos um determinado lance, gritava muito quando fazia gol e seus comentários eram sempre com a finalidade de tirar a nossa “concentração”. Na maioria das vezes, conseguia. Por outro lado, foram, certamente, os primeiros exemplos de motivação para o que viria pela frente. Com o passar dos dias, mais treinados por meu pai, que nos ensinou de imediato a não reagir de forma negativa às provocações, começamos a ganhar mais dele e ele foi “baixando a bola”. Passando naquele teste psicológico, certamente enfrentaríamos com facilidade outros que viessem a aparecer.
Reações bem menores que as de meu pai e de meu tio Gilson quando jogavam em Nazaré: o que perdesse o jogo, muito chateado, jogava pela janela todos os botões num matagal ao lado da casa de minha avó. No dia seguinte, de cabeça fria, iam recolher os defenestrados jogadores.
Como a receptividade foi maior do que a esperada e para evitar futuras brigas com minha mãe e a empregada, meu pai providenciou, meses depois, outro grande presente para seus três filhos: uma mesa oficial, com suas marcações próprias e precisas, de madeira, com cavalete e também aparatos na lateral (agora nossos craques não cairiam mais no chão!). Uma maravilha de mesa! Se a de fórmica era o nosso Maracanã, como chamar essa perfeição? Por incrível que pareça, nunca a batizamos!
Ao ser espalhada a notícia de que na casa de Almeidinha (assim os amigos chamavam meu pai) havia uma mesa oficial para jogo de botão, os vizinhos de nossa rua e de outras por perto passaram diariamente a seguir em direção ao nosso quintal.
Com a realização dos primeiros jogos, foram surgindo novos times, de materiais diferentes (um dos amigos, Naduca, apareceu com um time de acrílico; outro do qual lembro o nome foi Celsinho) daqueles que estávamos acostumados, nada que prejudicasse a brincadeira de todos aqueles meninos, ávidos em jogar uma partida de botão numa mesa tão bonita. Dificilmente fazíamos torneios, devido ao grande número de interessados em jogar, mas era grande o número de jogos por dia.
O futebol de botão passou a dividir nosso tempo de diversão, nossa infância, a ser concorrente do futebol, praticado num campinho com mato no lugar da grama (que preparamos colocando meiões nos pés para retirar os carrapichos do mato).
Essa mesa nos acompanhou na próxima mudança de cidade (para Salvador, no bairro do Rio Vermelho), onde fizemos novas amizades por conta do futebol de botão. Jogávamos muito nessa época: deixávamos a mesa na cobertura do prédio onde morávamos e, quando queríamos jogar uma partida, íamos nós mesmos ou chamávamos alguns moradores que já conheciam o futebol de botão. Nessa época eu tinha um caderninho, onde anotava os gols do meu Botafogo. O Paulo César Lima, meu número 11, tinha mais de mil gols!
Chegamos em Brasília, em janeiro de 1972. A mesa veio com a gente! Continuamos jogando nossas partidas, organizando nossos campeonatos (sem troféus) até 1979, quando conhecemos uma boa parte desses com quem dividimos hoje grandes momentos de alegrias. Momentos esses que só foram possíveis graças aos presentes de meu saudoso pai! Que Deus o tenha!
Nenhum comentário:
Postar um comentário