Por Antônio Carlos Pimentel
Meu nome completo é Antônio Carlos Pimentel da Silva. Nasci no morro do
Vidigal, no Rio de Janeiro (RJ). Nadar no mar, jogar futebol e jogar botão foram
as minhas paixões durante todo tempo que morei no Vidigal. De junho de 1947,
quando vim ao mundo naquela madrugada, 13, até o ano de 1967, quando meu pai
por problemas sociais e financeiros resolveu mudar-se com toda família para o
subúrbio do Engenho da Rainha. Ali se encerrou o meu ciclo no Vidigal e passei
a visitá-lo esporadicamente.
Já com dez anos de idade, lembro-me perfeitamente das escalações das equipes
que disputavam o campeonato carioca dessa época por causa dos nossos times de
botão. O meu time era o Vasco da Gama, é claro! O Periquito era Flamengo, o
Joilson, América, o Dingo, Fluminense, meu irmão Betinho era Botafogo, o Peu,
meu outro irmão, como não podia ser Flamengo, era Bangu e por aí á fora. Jogar
botão deixou a gente com estas deliciosas recordações.
Dingo foi o meu maior parceiro no futebol de botão. Jogávamos quase todos os dias,
até depois da escola à noite. Éramos dois fominhas, e trocávamos e fazíamos
muitos botões...
Sempre fui um apaixonado pelo futebol de botão. Cheguei em Brasília em maio de
1975, transferido do Rio de Janeiro pela Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos – ECT, para cumprir uma temporada de dois anos fim dos quais poderia
retornar ao Rio de Janeiro ou outra cidade de minha escolha. Entretanto minha
identificação com a cidade foi tão intensa que resolvemos nos ficar por aqui.
Nas vezes que ia ao Rio de Janeiro, visitava meu irmão mais velho, que havia
ficado com meus times de botão. E sempre matávamos saudades jogando umas
partidas.
Aqui em Brasília no corre-corre e as atribuições, meu lazer era jogar futebol
aos domingos. Certo dia, no ano de 1982, isto é, quase sete anos depois de
chegar à Brasília, abri o jornal e vi o seguinte anúncio: II Campeonato Aberto
de Futebol de Mesa. Mostrei para o meu compadre Gilberto que também gostava,
telefonamos para a pessoa cujo nome estava no jornal e combinamos para ir
conhecer as regras e forma de jogar. Na minha última viagem ao Rio de Janeiro,
havia trazido os meus botões e estava aguardando uma oportunidade e ela havia
chegado.
À noite, não me lembro que dia era, fui eu o Cagiba (Carlos Gilberto Barbosa) cheio de curiosidades para a
Quadra 8 da Área Octogonal nos inteirar das regras e condições para disputarmos
o evento em tela. Um rapaz claro, alto, de óculos, muito polido e educado
recebeu-nos na porta do seu apartamento, convidou-nos para entrar, apresentou sua
jovem esposa. Sentamos, conversamos um pouco e momentos depois ele convidou-nos
para irmos para General Severino, estádio do seu Estrela Solitária. Ficamos
admirados e surpresos com o tamanho da mesa, pois nunca havíamos jogado em uma
daquele tamanho. Parecia mesa de ping-pong. Após explicar como funcionava a
regra, disse o seguinte: - “Vocês só vão aprender jogando!” Dessa forma
colocamos nossos minúsculos botões em campo. E entre uns goles de cerveja que
havíamos tomado, começamos a tomar também um “chocolate”: O cara fez mais de
dez gols no meu compadre, outros tantos a um em mim. Milagre! Consegui fazer um
gol. Ele deixou, é evidente! Depois de saciar sua sede de gols e aplicar-nos
outras goleadas, que nem me lembro mais, pois perdi o rumo, ele sentenciou as
seguintes palavras: - Não desistam. Vocês levam jeito e conhecem as manhas. A
gente só aprende esta regra jogando (e perdendo... Falsinho!).
Ao fim da noite saímos de lá rindo um do outro, mas esperançosos para
disputarmos o tal Torneio Aberto de Futebol de Mesa. Lembro-me “que ainda comentei
dentro do carro na volta para casa com meu compadre: - Agora entendi por que o
nome do Torneio é Aberto! A gente abre e ele enfia uma goleada! Este cara é um
sacana! Obrigado meu amigo, meu irmão e parceiro José Ricardo Caldas e Almeida!
Você foi o meu padrinho e me trouxe para o esporte o qual posso matar as
saudades, nem que seja na ficção dos meus eternos amigos de infância do meu
pedaço de mundo: Vidigal.
Antes se retornarmos as nossas casas após aquela mistura de bebidas: “cerveja e
chocolate”, ainda zonzos e com os dedos doendo de tanto pegar bola na rede, Zé
Ricardo explicou-nos como funcionava a formação dos times, isto é, tínhamos que
escolher por livre e espontânea vontade. Depois de alguns estudos optei por
Vidigal em homenagem ao meu passado. Ainda no Torneio Aberto jogamos com nossos
times originais, mas nas primeiras partidas tivemos dificuldades, mas até o fim
do Torneio, descobrimos, por intermédio do colega Roberval, uma fábrica em
Taguatinga, a Stiloplast e mandamos fazer os nossos times. Mantive as cores
verde, branca e preta do Vidigal, o símbolo e depois de muito estudo, escolhi o
nome dos jogadores pela importância de cada um no meu passado.
Após a disputa do Torneio Aberto no ano de 1982, onde fui derrotado pelo Mauro
(Capibaribe), na semifinal por 3 x 2, peguei gosto pela coisa e seguimos em
frente. Em tempo: deste aberto, pelo Guará, participaram três botonistas: eu,
Carlos Gilberto e Voltaire, já falecido. Nesta época nos unimos a outros três
amigos de Taguatinga: Roberval, Milton e Capitão Lobo, também falecido. Temos
que nos prevenir, pois o número de adeptos no mundo espiritual é significativo.
Que Deus os protejam e nos mantenha mais tempo com a barriga grudada na mesa de
botão.
Do pessoal remanescente daquele histórico Torneio Aberto, restaram dois
praticantes: eu e Mauro. Roberval aparece de vez enquanto para contar as suas
histórias e ainda recentemente arriscou umas incursões na mesa, mas não perdeu
o estilo de retranqueiro.
Daquele grupo, Guará e Taguatinga, com auxílio e participação do amigo Álvaro
Sampaio (All Stars) e com apoio técnico do nosso “carrasco padrinho” José
Ricardo, fundamos a Associação Guará de Futebol de Mesa, com sede em uma sala
alugada e realizamos em 1983 o I Campeonato de Futebol de Mesa dessa cidade satélite.
Evento em que Roberval sagrou-se campeão e dos quais participaram, dentre
outros: Antonio Carlos Batista, Álvaro Sampaio, Álvaro Lobo, José de Almeida
Porto e seu filho Armando, Cagiba e seu filho Marcelo, Junior, Tata, Milton,
Renato, Ermânio Farias, Ivan, Cardosinho e Enedino.
Infelizmente o Guará, com seu saudoso informativo GAROTO DO PLACAR, editado
pelos botonistas do Guará, cuja memória foi extinta, ou seja, não possuímos
nenhuma cópia, encerrou suas atividades no final do ano de 1988. Entretanto,
apenas eu, Ermânio e Roberval continuamos nossa trajetória no futebol de mesa.
Dentre os títulos que possuo, cito o bicampeonato do campeonato interno do
Guará em 1983 e 1984 e venci dois torneios Challenger, um em 19.03.2002 e o
outro em 07.08.2004. Também destaco a conquista da Taça de Prata no Campeonato
Brasileiro Interclubes, em Juiz de Fora, formando na equipe de uma das maiores
feras do futebol de mesa de Brasília: Jan Buarque, pessoa da melhor qualidade
cujo grande defeito era ser corintiano. E também a 3ª colocação no 3ª Taça
“Tued Malta” de Seniores, tirando da disputa ao título um dos favoritos: Márcio,
de Juiz de Fora. Este evento foi conquistado pelo meu mestre Sérgio Lagos Motta.
Incrível, impossível ler o belíssimo texto sem que a voz inconfundível do aniversariante não venha ao pensamento linha por linha e parágrafo por parágrafo. Feliz aniversário meu amigo Pimentel. Saudações vascaínas.
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