segunda-feira, 4 de junho de 2012

BOTONISTA EM FOCO: Márcio Da Rós


No ano de 1959, na vila de João Neiva, município de Ibiraçu, Espírito Santo (local onde Márcio Luís Da Rós nasceu em 26 de outubro de 1951), o movimento dos botões era bem grande por parte dos rapazes que estudavam no SENAI e, entre eles, estava o irmão do Márcio, Décio.
Ele, inclusive, fabricava botões para vender. Márcio gostava muito de assistir as partidas, que tinham como sede o Liceu "Pedro Nolasco". Ali, aos domingos, as disputas eram ferrenhas.
Seu interesse pelo futebol de mesa aumentou mais ainda quando Décio o presenteou com um time. Era de plástico e bem trabalhado. Os botões tinham três camadas: duas amarelas e uma preta no meio e passou a ser o Peñarol, de Montevidéu, time do Márcio por muitos anos. Apenas um botão tinha uma camada verde, no meio, e este ganhou o apelido de "Brasilzinho".
Naquela época não havia organização botonística alguma, e as crianças jogavam na base dos amistosos, na casa de um ou de outro. Um amigo que se destacava era Henrique Negri.
Em 1961, precisamente no mês de fevereiro, último dia de carnaval, a família de Márcio mudou-se para o Bairro de Jardim América, cidade dormitório de Vitória, capital do Espírito Santo.
Foi ali, em Jardim América, que Márcio viveu bons momentos na disputa de campeonatos de botão. Logo, conheceu João Alvino Paiva Rezende, mais conhecido nos meios botonísticos como João Rezende. E passaram a  organizar o esporte no bairro. Um dos dois era o Presidente da “Federação”. Na época, a turma escolhia o Presidente (e a diretoria só tinha o Presidente) por ser o melhor árbitro e quem fazia a melhor tabela. Eram realizados jogos na casa de Márcio, na de João ou então na casa de Francisco e Roberto Perdigão, os únicos que tinham mesas oficiais (mais ou menos do tamanho do "Estrelão"). A regra mais utilizada era a "baiana", de um toque. Mas também jogavam com dois toques, ou seja, batia-se o tiro-de-meta e, depois da bola ultrapassar a linha de meio-de-campo, poderia haver o chute a gol. Às vezes, o pessoal de Jardim América visitava ou recebia os companheiros da Rua Canadá (parte oeste) e também da Rua Paraguai e adjacências.
O grupo de Márcio era formado por João Rezende, Francisco e Roberto Perdigão, Roberto Menezes, José Eugênio, Cleto Rozetti Filho e Sérgio. De vez em quando jogava entre eles o famoso goleiro Jorge Reis, que chegou a ser recordista mundial de minutos sem levar gols.
Até 1966, houve muita movimentação no bairro. Neste ano, João Rezende transferiu-se para Brasília e Márcio ficou sozinho na parte de organização dos campeonatos.
Uma enchente que houve em 1967 levou 90% dos documentos que Márcio possuía, inclusive a pasta dedicada à Federação. Só conseguiu salvar algumas folhas dos torneios e campeonatos. Inclusive perdeu o seu estimado caderno, onde anotava os resultados dos times com os quais jogava, numa completa estatística.
Através do movimento do Grupo de Jovens Jardinense, Márcio conheceu Adolfo e, junto com os irmãos deste e outros amigos, formou o Grupo da Rua São João, na Vila Rubim, em Vitória. Ali, as coisas eram mais difíceis para Márcio, pois todos eles tinham botões melhores e maiores. A mesa era bem maior e bem trabalhada. Teve que dar muito duro para conseguir comprar dez botões e uma nova mesa. Márcio lembra-se que a mesa custou muito dinheiro, obrigando-o a pagá-la em prestações, sem ninguém de sua casa ficar sabendo. Para comprar onze botões de madrepérola, Márcio teve que vender mais de 40 dos que ele tinha em casa. Nesta época, ele já não possuía mais o famoso Peñarol, vendido em 1961 para o João Rezende.
De 1971 a março de 1979, Márcio não jogou botão. Foi uma época em que ele entrou para a Faculdade, apareceram cursos, viagens e começou também a trabalhar. Mas a sua caixinha de botões permaneceu bem guardada, como até hoje está.
Em abril de 1977 Márcio mudou-se para Brasília. Fez um concurso na Fundação Educacional do Distrito Federal e foi trabalhar como Professor de Educação Física em Taguatinga. Ali, um ano depois, casou-se e foi morar no Plano Piloto. Sua esposa estudava no CEUB e ele sempre ia buscá-la. Numa dessas ocasiões, no CAC-Centro de Atividades Culturais da faculdade, que funcionava no Bloco II, Márcio leu um convite, assinado por Sérgio Netto, para um torneio de futebol de mesa que iria acontecer no mês de março. Tentou localizar Sérgio Netto no mesmo dia mas não conseguiu e obteve a informação de que havia um clube funcionando no CEUB e os jogos eram aos sábados.
No dia 31 de março de 1979, sábado à tarde, Márcio apareceu no CAC, com a sua caixinha de botões de acrílico. Cumprimentou o pessoal e começou a apreciar os jogos. Para ele foi a maior surpresa ver um jogo de botões com uma bola de feltro. Os botões de celulóide, todos iguais, aquilo o deixou surpreso e com uma vontade muito grande de jogar daquela maneira. Naquela tarde fez apenas uma partida, empatando de 1 x 1 com o Jota Santos, que mais tarde iria para Manaus. Seus botões não eram apropriados para aquele tipo de bola. O campo era o "Ceubão" e ele nunca havia jogado em mesa tão grande. Ficou muito entusiasmado, comprou um time novo e associou-se ao clube (CEM/CEUB). Teve contato com pessoas maravilhosas como o próprio Sérgio Netto, Jota Santos, Vasco Duarte, Cícero Barros, Luciano Duarte, Luiz Gomes, Nonato Silva, Jorge Correa (capixaba como ele), José de Ribamar Garcês e muitos outros.
No dia 14 de junho de 1979, Márcio reencontrou seu grande amigo João Rezende em uma mesa de botões.
Aconteceu no apartamento de João, na SQS 406, em um campo denominado "Capixabinha". Naquele dia, foi derrotado pela contagem de 2 x 1, quando jogaram na regra baiana, a fim de recordar os velhos tempos.
Dois dias depois, juntamente com seus amigos Sérgio Netto, João Rezende e seu primo Zanoni Castro, Márcio fundou o Clube de Botões da Escola Parque 308 Sul, que funcionou durante muito tempo e bastante frequentado pelos alunos da 5ª e 6ª séries, que eram seus alunos. 
Márcio improvisou duas mesas utilizando uma de ping-pong e ali realizou diversos eventos.
A idéia de criar um clube na Associação de Ensino Unificado do Distrito Federal, mais conhecida como UDF (onde trabalhava João Rezende) foi amadurecendo e Márcio foi um dos fundadores do Clube Recreativo de Esportes de Mesa - CREM, como ficou conhecido. Ali foi realizado o primeiro campeonato  na regra baiana.
Logo depois, Márcio levou para o CEUB uma reportagem do Jornal dos Sports, com João Paulo Mury, presidente da Federação de Futebol de Mesa do Estado do Rio de Janeiro. Novos horizontes foram surgindo. A correspondência e os telefonemas foram aparecendo pouco a pouco. Receberam bolas, botões e as regras que estavam sendo jogadas no Rio de Janeiro.
Com a realização do Torneio Rio-Brasília, começou uma nova era para o futebol de mesa brasiliense. Um grande sonho que Márcio tinha pôde ser concretizado: a fundação da Federação Brasiliense de Futebol de Mesa, entidade criada por ocasião do torneio interestadual envolvendo técnicos cariocas e de Brasília.
Márcio foi o primeiro presidente da nova entidade. Com sua experiência em organizar campeonatos, foi promovido o 1° Torneio Aberto, ainda em 1979. Em janeiro de 1980 foi a vez da Copa do Mundo e de março a maio do mesmo o II Torneio Aberto. Logo após o término desta competição, Márcio passou o cargo para José Silvano, procurando dedicar mais seu tempo em fazer aquilo que sempre gostou muito: auxiliar na organização de torneios e campeonatos.
Não demorou muito para que seus afazeres profissionais e particulares o afastassem de vez das mesas que tanto gostava. A última competição oficial que tomou parte em Brasília foi o Brasiliense Interclubes, disputado de 19 de outubro a 21 de dezembro de 1980, defendendo as cores do Ceub.
Desde fevereiro de 2009, Márcio mora na Espanha, mais precisamente em Navalmoral de La Mata, pequeno município da Província de Cáceres, comunidade autônoma de Estremadura.


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